
O câncer de mama é o tumor que mais mata mulheres no Brasil. Por isso, neste mês de outubro, a OCA conversou com a Dra. Carla Bulcão, médica ginecologista, que trabalha com a saúde da mulher desde 1989. Falamos sobre medidas de rastreio, sinais de alerta, grupos de risco da doença, entre outros assuntos. Venha conferir e passe adiante para amigas e familiares mulheres! Como a Dra. Carla explica, o diagnóstico precoce é a melhor arma contra esse tipo de tumor.
1) Dra., a gente lê muito por aí sobre prevenção de câncer de mama. Porém, é correto o uso desse termo? Existe realmente prevenção de câncer de mama?
Em relação à prevenção de câncer de mama, muita gente pensa que fazer o exame é fazer o preventivo da mama, não é. Na verdade, o rastreio de mama com a mamografia não previne o câncer, ele detecta o câncer precocemente e dá uma chance maior de cura. O câncer já nasce sendo câncer e não vem de uma transformação de uma lesão benigna. Por isso que o exame não vai prevenir. Quando falamos em prevenção de câncer, hoje em dia, relembramos que alimentação adequada, controle de peso e atividade física são hábitos saudáveis de vida e que mostraram já nos últimos estudos do INCA sua contribuição na diminuição no percentual de câncer de mama no Brasil.
2) E quais os hábitos que as mulheres devem ter para aumentar as chances de um diagnóstico precoce?
Antigamente, se falava no autoexame periódico depois da menstruação, mas não é o que preconizamos hoje em dia. Hoje, a mulher sempre deve observar suas mamas e ver se há alguma diferença. Esses são hábitos saudáveis para conseguir detectar o câncer de mama. Além disso, regularmente, a partir dos cinquenta anos – o protocolo do INCA é dos 50 aos 69 anos – a mamografia de dois em dois anos é o método de rastreio padrão. Quando falamos que um exame serve para rastreio, você vai fazer independente de estar sentindo ou identificando algum sintoma. Deve-se fazer esse exame rigorosamente dos 50 aos 69 anos. É diferente de quando detectamos alguma alteração e aí fazemos o exame – aí passa a ser um exame de diagnóstico. Resumindo: autoavaliação (autocuidado) e mamografia de rastreio na faixa etária preconizada.
3) Há alguns sinais de alerta para os quais se deve prestar atenção?
Os sinais suspeitos que podem ser percebidos nesse autocuidado das mamas são, basicamente, cinco: o nódulo – um caroço palpável; alteração no mamilo – inversão no mamilo que não era invertida de nascença; alguma vermelhidão na pele que pode ficar retraída – chamamos de pele em casca de laranja: ela fica endurecida, vermelha e meio enrugada; secreção pelos mamilos também pode ser um sinal e algum nódulo no pescoço ou na axila. São os sinais principais e, se notados, a mulher deve procurar um médico o quanto antes.
4) Existem fatores de risco para câncer de mama? Ou estilos de vida que podem aumentar a probabilidade de desenvolvimento, no futuro, desse tumor maligno?
O fator hereditário: várias pacientes tinham histórico de câncer de mama ou de ovário entre familiares de primeiro grau (muitos cânceres de ovário têm a mesma linhagem do de mama, então é um risco para a mama também). Fora isso, fatores comportamentais como o sobrepeso, sedentarismo, uso de bebidas alcoólicas, maus hábitos de vida aumentam essa incidência e cada vez mais se fala nisso e em prevenção por esse caminho. Já que não se pode controlar hereditariedade, não se pode controlar idade – sabemos que em idades mais avançadas as mulheres têm maior incidência de câncer de mama -, podemos mexer nos fatores ambientais, então é em cima deles que nós fazemos a tentativa de prevenção. Outros dois fatores importantes são o uso de hormônio ao longo da vida – pacientes em uso de reposição hormonal pós-menopausa podem ter uma chance maior de desenvolver câncer de mama, mas não devemos deixar de fazer por causa disso. Mulheres que amamentam têm uma proteção em relação àquelas que não amamentam.
5) Tem algum recado que queira deixar para nossas seguidoras?
O recado que eu deixo para as mulheres é que em 2021, os últimos estudos vêm mostrando que a previsão é de 66 mil novos casos de câncer de mama no Brasil, e esse tipo de câncer é o que mais mata no país. Ele não é o mais incidente porque perde para o câncer de pele não melanoma, comum em países com clima quente, mas que não mata tanto. Apesar de vir em segundo lugar, o de mama é o que mais mata as mulheres no Brasil. Mesmo sendo muito frequente e agressivo, já se descobriu a cura quando detectado precocemente. O meu recado para as mulheres é que não deixem de rastrear, não deixem de procurar auxílio médico a qualquer sinal de alerta, não deixem de seguir o protocolo de rastreio mamográfico preconizado pelo Ministério da Saúde, que é através das mamografias a partir principalmente dos cinquenta anos. Há uma pequena variação do sistema público para o sistema privado, que começa em torno dos quarenta anos, mas dos quarenta em diante, dependendo do serviço pelo qual você estiver sendo acompanhada, seguir o protocolo desse serviço e não deixar de fazer regularmente seu exame de rastreio independente de qualquer sintoma. Esse é o meu recadinho para as mulheres. Se cuidem, cuidar é prevenir.
A Dra. Carla Bulcão é médica ginecologista e busca sempre divulgar conhecimento sobre questões de saúde da mulher em seu instagram, @dra.carla.bulcao.