Família ensina e pratica amor ao próximo

Desde pequena, Andréa Melo, 43, via a família ajudando como podia. “A gente morava em um bairro simples em Curitiba, mas ajudava, mesmo com a nossa dificuldade. Minha mãe sempre deu aula de crochê, tricô, trazia as crianças”, recorda a professora de música. Em 1993, a família voltou para Londrina e continuou a oferecer ajuda. O hábito estava tão presente na rotina da família que a impressão era de que nunca foi ensinado a ter empatia na casa. Foi só impressão.

A casa em que os três vivem aqui na cidade ainda é simples, mas nela há amor espalhado. Pacotes de cestas básicas e sacos de doações enfeitam a sala em meio aos sofás adornados com crochê. As doações envolvem toda a família, que recolhe e distribui roupas, alimentos, móveis, qualquer coisa que ajude famílias carentes.

Além dessa atividade, o pai, José de Melo, 72, e a mãe, Maria Teresa de Melo, 65, participam de trabalho social em penitenciária, ação que praticam com orientação da igreja por meio da Pastoral Carcerária. “Em primeiro lugar, estou cumprindo a ordem de Jesus. Por outro lado, eu amo gente, amo o que estou fazendo”, conta o pai, que foi professor de filosofia e afirma que por meio da educação também é possível ensinar crianças e adolescentes. “A filosofia convida à verdade, se passa valores por meio da filosofia”, afirma.

A ação consiste em conscientizar a população carcerária e também suas famílias, pois José conta que muitos não são aceitos em suas casas quando saem da prisão e voltam para as ruas. Para exercer o trabalho, é preciso sentir a necessidade do outro sem julgamentos. “Se eu não sentir o que eles sentem, fica só na teoria. Eles sabem quando é de verdade”, conta o pai.

Sentir o que o outro sente, habilidade que afirmam terem desenvolvido através do exemplo dos pais e que tentam repassar aos filhos. “Não adianta só pôr a comida na mesa, isso é fácil se você tem condição. É preciso ser exemplo e mostrar o que se está fazendo por amor”, conta Maria. Nem sempre esse amor está na forma de doações. “Às vezes você não tem dinheiro, mas pode ensinar alguma coisa que saiba fazer”, afirma Andréa. Para ela, as próprias comunidades assistidas precisam adquirir essa consciência.

EDUCAÇÃO
Sentir a necessidade do outro também é uma forma de aprendizado para adquirir empatia. Andréa afirma que muito do que ela enxerga veio de suas experiências pessoais. “Nós tivemos dificuldades financeiras, não passamos fome, mas tínhamos vontade de comer algo diferente. Lembro que sempre aparecia alguém ajudando”, recorda.

De acordo com ela, a vivência pode mudar a visão sobre algumas questões e deu como exemplo o trabalho de quem canta para os internados em hospitais. A professora já reconhecia a importância, mas este ano precisou passar por uma cirurgia e recebeu os capelões na condição de paciente. “Me senti amada, amparada, e por ter vivido isso, entendo melhor hoje”, afirma.

Por isso acredita que é preciso colocar as pessoas dentro da realidade. “Hoje eu vejo que há uma preocupação: ‘vou dar ao meu filho aquilo que eu nunca tive’. É um medo de que ele viva frustrações, mas os pais acabam não dando limites. Cria-se um egoísmo, porque essa criança cresce acostumada a ter tudo e acreditando que todo mundo tem o que ela tem e que todo mundo tem que dar o que ela quer. Então, eu preciso mostrar que há crianças que não têm”, critica.

Demonstrar a realidade, fazer sentir o que o outro sente seria uma forma de desenvolver a empatia, segundo ela. “Se eu não falar para essa pessoa que existe esse outro lado, incentivá-la a ir pessoalmente ver, conhecer, se você não mostra, ela não tem noção que há outras com necessidade”, afirma.

Em contato com as comunidades carentes, Andréa e os pais estão sempre praticando a ação por meio da habilidade de se colocar no lugar do outro. Seja por meio da fé, em que a família Melo se sustenta, seja por meio de compreensão social da necessidade do outro, a empatia é um exercício diário que começou dentro de casa, mas não acaba fora dela.

 

Fonte: Folha de Londrina

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